26/03/2014

(Wonder) Track Sole Shoes: Pés Todo-o-Terreno

Track Sole Shoes, Pés Todo-o-Terreno

Track Sole Shoes, Pés Todo-o-Terreno by marta-rebelo-not-a-wonder-woman


Eu, de 36 anos, gastadora de solas pela calçada lisboeta afora, sou fã dos track sole shoes. Porque impõem conforto mesmo a uns saltos de 12cm, e em salto médio nem se sente a mediana altura. As opções acima são da Zara. Aqui ficam outras sugestões acessíveis, a uma tecla ou viagem ao Chiado (ou ao Shopping mais próximo). A Asos é sempre especial para uma shoe-lover, mas sugiro uma ida à Stradivarius.

River Island Porter, Asos (+/- 60€)

Bershka (+/- 46€)

Vagabond Dioon Slingback, Asos (+/- 100€)




25/03/2014

A minha avó morreu. Viva a minha avó!

A minha avó Luísa, avó materna, avó-mãe, morreu esta noite. O coração parou, estava a parar há uns tempos. Não fui apanhada na curva, ela estava internada há uma semana e meia. Pude despedir-me, dizer-lhe tudo o que tinha de dizer, conheceu a minha unidade familiar (filha adotiva, namorado, BFF-irmão-tudo), soube a que a sua neta favorita (nunca escondeu, eu cresci com os meus avós, foi da casa deles quer sai para casar) ficava bem, prometi-lhe que tomava conta do meu avô, disse à minha avó que se não pudesse esperar que eu voltasse a estar ao seu lado para se ir embora não fazia mal. E não pode. Esperar. Durante a noite partiu, e às 8h20m o meu telemóvel tocou, mal vi um número que não conheço soube. Talvez tenha mesmo sabido à hora, porque não preguei olho.
E agora?
Eu, que teorizo que as pessoas se celebram em vida em vez de se chorarem na morte, consigo praticar o que prego?
A questão é muito simples: tudo o que se passe a partir de agora já não é pela minha avó, é por mim. E como tal, é remorso, culpas, saudade, eu eu e eu. Nem pensar. Chorei muitíssimo na sexta-feira passada. Quis muito que a minha avó partisse enquanto eu estava ao lado dela, porque entendo que ninguém deve deixar este mundo sozinho. Só que não foi possível. Fiz tudo o que podia. Pelo menos nesta reta final. Agora, apetece-me celebrá-la. Ir ao restaurante onde costumávamos almoçar as duas (ou os três, com o meu avô), pedir galinha com caju (raios, sou vegetariana) e um copo de vinho branco, como a minha avó fazia. Ou ao Jardim da Estrela dar milho aos pombos (programa de infância), às piscinas de São Bento, aos Montes Claros apanhar malvas para o chá ou pinhões. Tentar fazer o arroz de bacalhau ou o arroz doce d-e-l-i-c-i-o-s-o-s que só á minha avé Luísa sabia fazer (atenção família: o arroz doce tinha segredo, como toda a gente sabe, e eu sei qual é! A avó contou-me há uns anos!!). Ver filmes de Bollywood, vestir um padrão leopardo, umas havianas, tomar uma italiana, ir comprar tecidos. Coisas nossas que cresci a fazer. Sou a Marta que sou porque a avó Luísa me fez assim. E em todos os sítios dizer um sorridente "OBRIGADA AVÓ".
A derradeira decisão que tomou deixou-me um pouco órfã de despedida, mas na verdade ela sempre me disse que era isto que queria: doou o corpo à ciência, e quando os cientistas o tiverem estudado quer ser cremada. Respeito, muito respeito. Senhora muito despachada que era, embora desse pouca conta disso ao mundo. Fiz-lhe um colar de pérolas este fim de semana, para ela levar, adorava pérolas. Vou guardá-lo numa das caixinhas dela.

Eu, aqui do alto das minhas saudades e da fatal certeza de que não volto a estar com a minha avó, digo-vos: quando saírem do trabalho, vão encher alguém de mimo. Avós, pais, tios, periquitos. Morrer é só uma etapa da vida. Aquela que acontece de certezinha.
Eu não vou vestir preto, não vou abdicar da cor, vou tentar fazer o meu dia o mais normal possível. A minha avó, embora mal conseguisse falar, disse-me que gosta de me ver loura. Então, vou ser loura, louríssima, hoje. E ouvir músicas de Bollywood.

Adoro-te avó. Gosto tanto tanto de ti! Está tudo bem. Prometo que vou continuar a ser feliz.
(Tirámos estas fotografias, eu e a Dri, antes de ir ter contigo no domingo. Porque tu adoras flores e jardins e malmequeres e sol)







24/03/2014

Eat out: Wonder Crítica Vegetariana #1

A pergunta que mais me fazem, amigos, jornalistas, conhecidos, a minha-irmã-Catarina-quando-tenta-organizar-um-almoço-de-29-anos, enfim toda a gente quando sabe that I went veggie é esta: "mas o que é que come quando vai a restaurantes??!" (e a segunda e terceiras perguntas do top 3 é, claro, se não me custa tantoooo e o que é que me custa mais não comer; 2) Não me custa nada, 3) Farinheira).
Aviso desde já que d-e-t-e-s-t-o TOFÚ, SEITAN e a maior parte das produtos de SOJA.
Uma coisa é ser saudável e ser vegetariana (o que para mim significa não comer bicho algum, peixinhos incluídos), outra é querer muito ser vegan - NÃO QUERO - e fanática.
Para as muitas pessoas que procuram ser mais saudáveis e querem tentar ou fazer refeições vegetarianas fora de casa, seja em que restaurante for, vou escrever sobre as minhas experiências gastronómico-vegetarianas. Acreditem que em qualquer restaurante, da mais tasca das tascas até à cozinha de autor com estrelas Michelin, há sempre uma solução veggie.

Desta vez, num Sunday-ainda-mais-Family-Day, almocei no Great American Disaster, no Marquês de Pombal. É o típico Diner made in USA ou, em "brasileiro", uma lanchonete. E, assim sendo, associa-se de imediato o sítio à fast food ou a coisa gordurosas e cheias de molhos e coisas más. ERRO. O Great American Disaster tem dois hambúrgueres vegetarianos e uma mão cheia de saladas (basta pedir que não coloquem o ingrediente carnívoro). E ainda pizzas que podem ter apenas legumes e/ou fruta.

Pedi, para dividir com a minha filha, uma salada Jungle Jive e um hambúrger Green-a-rama. Um batido de manga sem lactose e, nham, tudo óptimo. A salada tem alfaces (frisada e roxa), cenoura ralada,  maçã, abacaxi, kiwi, queijo aos cubos (e fiambre, ou se põe os cubos de lado ou pede-se que não coloquem) e molho rosa para quem queira. O Green-a-rama é um hambúrguer de vegetais, com pimento e especiarias a dar um sabor exótico, servido com arroz de milho, espinafres salteados e salada de agrião, cenouras-bebés e tomate cherry. Naturalmente, pedi uma dose de batatas fritas, que eu adoro e são, notoriamente, vegetais. Tudo 5 estrelas.
E preços? Acessíveis, mesmo:
Salada Jungle Jive: 5, 65€
Hambúrguer Green-a-rama: 7,20€
Batido de Manga (sem lactose): 2,80€
Batatas fritas (dose): 1,10€
(R-e)c-o-m-e-n-d-o.


Um medley de hambúrguer Green-a-rama e a salada Jungle Jive
Batido de Manga (sem lactose)



20/03/2014

Dia Internacional da Felicidade: o 1º GIVEAWAY da Not A WonderWoman!

Hoje, 20 de Março de 2014, é o DIA INTERNACIONAL DA FELICIDADE. Foi decidido pela ONU, back in 2012.
Este dia é pior que o Natal, devia MESMO ser todos os dias. Mas como não andamos muito habituados às maravilhas de sorrir, rir e ser feliz, uma data decidida, marcada e deixada apenas à execução, dá jeito. Como costumo dizer, as pessoas precisam muito do impulso, que alguém organize e diga como é, depois a execução sai bem a toda a gente.
Para dar uma motivação extra, decidi fazer o 1º GIVEAWAY DA NOT A WONDERWOMAN. Estava guardado para a abertura da loja (virtual) e apresentação da marca, mas a data merece celebração à altura.

Então o que é que é preciso fazer?
Eis os passos todos - para seguir à r-i-s-c-a, hem?

1. Não serem preguiçosos: preguiça de fazer, enviar e participar, chôôôôôôôô
2. Tirarem uma FOTO representativa de um MOMENTO DE FELICIDADE do vosso dia de HOJE - vamos lá, toda a gente tem um smarthphone, valem selfies e grupies e tudo e tudo
3. ENVIEM a foto com uma a quatro (não mais!) FRASES descritivas e nome, até às 23h59 de hoje, para:
    not1wonderwoman@gmail.com
4. GANHEM um balsamo labial de chocolate d-e-l-i-c-i-o-s-o (1º lugar) e um sabão artesanal de chocolate m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-o da Filhos da Terra: são 100% homemade, cruelty free e eco-friendly, eu uso ambos e adoro e sabem bem que o chocolate é um excelente indutor de felicidade.

Toca a dar ao dedo nas selfies e no e-mail.
BE HAPPY TODAY. And, by the way, always. Ou, como dizia o grande Raul Solnado, "FAÇAM-ME O FAVOR DE SEREM FELIZES". Como o totoloto (ups, agora é o Euromilhões), é fácil, é barato e dá milhões.






19/03/2014

A morte fica-nos tão mal, L'Wren Scott

 Em Portugal certas coisas, mesmo muitas coisas, passam ao lado da vida noticiosa. Mas se tiverem uma obsessão pelo Boing 777/MH307 da Malaisan Airlines, que desapareceu há 12 dias, já não aguentarem mais obrazinhas noticiosas do Passos Coelho, e portanto virem apenas a CNN, sabem, desde as Breaking News, que a fashion designer norte-americana L'Wren Scott apareceu falecida, ontem. Quanto mais não seja porque a belíssima LS era a namorada de uma década do mítico vocalista dos Rolling Stones, Mick Jagger. E, aparentemente, não morreu de morte morrida ou matada. Ter-se-a suicidado, e para tal ter-se-a enforcado.
Com 49 anos, uma super carreira como top-model, umas enormerrimas pernas, alta e cheia de estilo, designer favoritti de musas Hollywoodescas e Primeiras-Damas e, ainda por cima, namorada do Mick Jagger, é inevitável: não era esta a vida perfeita, o corpo perfeito, a profissão perfeita, o casalinho perfeito? Não. Claro que não. A imperfeição toda da sua vida levou-a a abandoná-la de uma forma violenta - em 90% dos casos, as suicidas opta por comprimidos, a mais clean e organizada forma de morrer (e os homens optam por coisas bloody e desarrumadas, tiros auto-infligidos, mergulhos para o precipício, linhas de comboio). Primeiro erro na nossa tão judgmental forma de viver: não, ela não tinha tudo. Não. Ela não era feliz.
Segundo erro de julgamento preconceituoso, que já ouvi: foi coca. Cocaína. Se o Seymour Hoffman foi um cocktail, esta foi de linha. Erro. Lá que psicotrópicos a rapariga consumisse, ninguém teria nada a ver com isso.
Então? A empresa de L'Wren Scott estava desfeita. Vestiu todas as A-List Stars, a Oprah, a Michelle Obama. Mas em 2012 já acumulava dívidas, os fornecedores dos maravilhosos tecidos que esculpia falhavam-lhe todos os prazos, não encontrava parceiros de negócios decentes. O ano passado saia uma maravilhosa colecção nascida da colaboração L'Wren Scott-Banana Republic, e a depressão agravava-se às suas profundezas. Parece que queria aquilo que dizem que todas queremos, o trio-maravilha marido-sucesso-filhos, o Mick já tinha muitos - filhos e casamentos. A falência estava iminente, com quase 8 milhões de dólares de dívidas. E o looping de sentimentos, impotência, frustração, dúvida e sensação de falhanço e afundar a que uma depressão nos sujeita, terá sido simplesmente demais. E depois vem os preconceitos versão-ponto-três: eh pá, o Mick pagava. Pelos vistos não.

Claro que a moral da história parece mesquinha e lugar comum: a felicidade não se compra (nem o Mick Jagger consegue comprar para a namorada). Mas a moral não é essa, realmente. É esta: a depressão é das doença mais democrática, etária e socialmente transversal que existem. O cancro também - mas se se diz de alguém que morreu de "doença prolongada" (porque fica mal dizer que foi cancro), nunca se ouviu ninguém dizer que outrem morreu na sequência de depressão prolongada. Que vergonha.
Eu sei muito bem do que falo. Foram muitos anos, uma década quase. A imobilidade, inoperacionalidade a que uma depressão nos remete é tão gigante e avassaladora, mesmo quando se finge a total funcionalidade com primor.
As vezes e minutos que passei ao telefone com a minha irmã do outro lado, eu a chorar compulsivamente porque não via como sair daquele estado, e ela a dizer-me "mas o que é que eu posso fazer? diga-me por favor", e eu não sabia, nem sabia o que é que eu estava a fazer, e quase levitava sobre a cena e racionalmente nada fazia sentido, mas ali em baixo doía tudo e se calhar a solução era desistir mas-espera-a-Kitty-está-a-ronrronar-no-meu-peito-aguento-mais-um-dia... Numa versão muito portuguesa e modesta, havia tanto quem pensasse que a minha vida era a perfeição e o joie de vivre. Um dia, no limite do suportável, era Deputada, quis sair do armário e assumir que tinha uma depressão. O meu psicoterapeuta quase me mandou internar, agora é que era. Nem pensar, se não morria da doença, morria da cura, ia levar porrada por todos os lados, ninguém saberia lidar com esta informação e a tendência para minimizar e ostracizar é muita. Meti para dentro e calei-me. Acho que fiz muito mal.
Não, não se trata de não perder uma oportunidade de falar nisto porque sim, coitadinha ou lá-vem-aquela-justificar-os-maus-momentos. Estou-me nas reais tintas para a trupe dos "coitadinha" e dos que acham que lhe devo alguma coisa. Gostava era que toda a muita gente que anda por aqui a lidar com esta porcaria desta doença pudesse contar com os outros, e não com o seu olhar desconfiado e cobarde. Porque aquilo que o humano não compreende, o humano afasta da sua órbita.

Acho que um mulherão como a L'Wren Scott, que desenhava coisas lindíssimas e que (para quem goste do género) tinha a sorte/azar de ter aquele namorado, devia viver até aos 149. Ela vestiu a Sarah Jessica. Ela vestiu a Nicole Kidman, a Oprah, a Madonna. Ela vestia amiúde a Christina Hendricks, do Mad Man, aquele mulherão de peitaça e anca larga que quer lá saber se acham que ela é curva a mais. Por paixão a um vestido dela, a Primeira-Dama dos USA e a Sarah Jessica vestiram o mesmo modelito, aquele no no que ninguém quer ter no curriculum.
E sabem que mais? Quando a L'Wren vestia estes vestidos todos, ficavam-lhe muito melhor do que a elas todas. Há um ano, a sua colaboração com a Banana Republic era aclamada - eu vestia tudinho.
Se valia a pena ficar por cá? Valia, claro. Ao menos alguém a tivesse conseguido amparar e dizer que aquilo passava.


A colecção com a Banana Republic (L´Wren Scott ao centro): U-A-U

O infame vestido que seduziu Michelle Obama e Sarah Jessica Parker

La Sarah Jessica, num L'Wren Scott icónico |
Nicole Kidman e Jennifer Lawrence em L'Wren Scott's tubo, em golden nude,
completamente dentro das tendências da próxima estação
 apesar do par de aninhos.
Christina Mad Man Hendricks, mulherão de curvas assumidas

Dia do Pai?

Alguns anos de psicoterapia ensinaram-me uma crua e cruel verdade: nós somos aquilo que os erros dos nossos pais nos permitem ser. Não há pai ou mãe perfeitos, e há tanta gente que devia ter passado por formação intensa antes de aceder ao privilegiado estatuto da paternidade. Mas qualquer especialista nos explica, qual b-a-bá primário, que os nossos primeiros anos de vida são essenciais na formação do que seremos e na construção e solidez dos nossos afetos e, sobretudo, na nossa capacidade de sentir e receber (e portanto, dar). Querem a minha opinião? Se estão mal resolvidos com alguma coisa, look back: algures há dedo materno e/ou paterno. Para o bem, para o mal e para tudo.
Nunca me dei espetacularmente com o meu pai. Temos um feitio parecido, mas absolutamente exacerbado, sublimado e refinado, no caso do meu pai. É uma coisa do ADN, que se vem esbatendo de geração para geração (já a minha avó paterna é insuportável). Somos o oposto em muitas coisas: o meu pai é cinzento, e gosto de ser o arco-íris; o meu pai vê pequeno, eu não acredito em impossíveis; o meu pai não sonha, tem insónias, e eu tenho insónias e deixo-me sonhar até acordada; o meu pai é centrado em si e no seu círculo de pessoas, eu foco-me no meu GEF (Grupo em Expansão Frequente). Ou seja, não falamos a mesma língua. O meu pai não sabe abraçar-me, fica aflito, sem saber o que fazer aos braços. Eu gosto de abraços bem apertados.
Os meus pais divorciaram-se aos meus 3 anos, e nunca passei mais de 3 semanas seguidas com o meu pai. Houve dois momentos muito importantes na nossa relação, mas não suficientes para hoje lhe ligar com desejos de "Feliz dia do Pai": a chegada da minha madrasta, uma mulher adorável que adoro, e que o puxou bastante à humanidade; a chegada do meu ex-marido, filho dileto de meu pai, e a minha vida organizadinha, casadinha, professorazinha na faculade de direitozinho, políticazinha e o palacete impoluto como casinha. Quando me emancipei de mim própria, disse CREDO isto não é vida para mim, o desgosto paterno teve início. E não mais parou. Nem sei o que pensa o Senhor meu pai da minha mudança de vida, mas imagino-lhe uma taquicardia. Afinal, não falamos desde Dezembro, nem nos meus anos tive direito a uma sms, e não me parece que isso vá mudar. Tenho a sorte de ter ao meu lado um verdadeiro pai-galinha, presente até mais não, que estrutura os seus pequenos num amor daqueles tão pronunciados que eles não se conseguem esquecer nem por um minuto. O pai da Nonô, que adotámos juntos.
Tenho a certeza que pousar os olhos neste blogue também é coisa que não passa pelo juízo de Senhor meu pai. Pelo sim, pelo não, aqui vai:
Pai, obrigada. Há tantas coisas que sim ti não teriam sido possíveis. Eu , logo à partida.
Não me inspiraste, não puxaste por mim, mas contribuíste sempre para o crescimento das minhas asas.
E lamento, mas tens netos cachorra e cão e duas gatas. Ah, mais a Violeta, a gata da Constança que maldizes sempre que podes.
Talvez te envie uma mensagem, pensando melhor.
Mas sem desejar resposta.

Às vezes temos de ver registado em letra de computador o que nos vai cá dentro. Solta-se o bicho ao vento, e tudo é mais leve. Ufa!

17/03/2014

Dating the City

Tenho trauma de domingos. É um dia que me leva sempre à antecipação das aulas em pequena, à troca entre mãe-e-pai-e-avós (sina dos filhos de pais divorciados no antigamente, entretanto isto já sofreu tudo um up date) ou  às manhãs de segunda e o péssimo abrir de pestana e horas de escritório pela minha frente, ai.
Também os há bem simpáticos, manta e quente e sofá aninhados a ver séries pirateadas e filmes bons, chá e jazz e os miúdos. Mas o Inverno foi-se. E ainda estão para chegar os domingos de sol e sal na pele (não ponho os pézinhos na praia há, literalmente, dois anos e meio - saúde/saúde/trabalho/saúde).

Domingo acordou-me madrugador, às oito. Preguiça, passear os miúdos, compras de improviso para o almoço. Spaghetti al dente como eu sei fazer tão bem, ovos estrelados mal passados em azeite, salsichas vegetarianas d-e-l-i-c-i-o-s-a-s (assim a saber às de boa qualidade). E agora, onde é que vamos? Vamos ao Santini comer um sorvete. Ok. A pé.

É um lugar gasto e chato de tão banal que é, dizermos que não aproveitamos a cidade, que Lisboa é uma delicia, que tem uma luz ímpar, que os estrangeiros vêem em fim de semana e nós? que não olhamos sequer para o lado. Pois eu conheço muito bem a minha cidade, habitualmente estou a par dos sítios mais giros, tenho roteiros muito meus e sou alfacinha de todos os costados. E não guio, pelo que costumo palmilhar quilómetros.

Muito bem, prontos? Rato, virar na Rua da Escola Politécnica. E parar onde apetecer.
"Porta" do Jardim Botânico. "Acreditas que nunca entrei aqui?" - Sim, acabei de pregar que conheço muito bem Lisboa mas o Botânico... pois. Atravessou de imediato a rua e aí vamos nós. Não há barulho. Não há carros (estão ali a meia dúzia de metros, mas não se ouve ou pressente o trânsito). Também não há bichos, só dois patos que antipaticamente não responderam aos meus quack-quacks. E o estado de conservação do Botânico... à imagem e semelhança da conservação do país. Mas tem muitas árvores. Cheira bem a calor. Sabiam que o calor cheira?

Loura Botânica no Canavial
Shirt da minha Not A WonderWoman, colecção-cápsula 03.14, linha Spiritual Chic |
Colar da É a Minha Mãe Que Faz || old gold skinny jeans da Zara (2011) |
tennis shoes Stradivarius Chiado (a que vale a pena, saldos 2014)

Voltamos à Rua da Escola Politécnica e a caminho eu gozo "Ahhhhh poluição sonora, trânsito, stress, urbanidade... nham nham", e já está um parvalhão parado no meio da rua, à espera que a criança volte da padaria com as carcaças sem querer saber dos da fila que estão a aturar-lhe a estupidez. Nem ligo.
Seguimos. Eu estou sem mala, coisa inaudita, levas a mochila da máquina-fotográfica-croma-xpto e eu armo-me em gajo e levas tu a minha carteira e a escova e o casaco pro frio logo. Se é natureza é contigo, se é cidade é comigo. Então, já foste à Embaixada? Não? Agora brilho eu. A ideia é entrar sem vontade de comprar coisa alguma (até porque há uns doidos que pretendem vender uma espécie de doctor's bag em vime por 99 €, ahahahahahhaahhaah), mas espreitar tudo. Adoras e gozamos com os nus, os preços e a miséria nas traseiras de um sítio fantástico. Seguimos.

As lojas da Embaixada
O relógio BCBG do café da Embaixada
A miséria triste das traseiras da Embaixada: a vista da varanda do café |
These tennis shoes are made for walking in Embaixada | Teto e candeeiro maravilha na Embaixada
Up view do café da Embaixada
Moças-roliças-e-desavergonhadas nas paredes da Embaixada

Vamos ao jardim, está uma bebé gorduchinha linda e cool a rir-se para mim. Bem, ali em cima fazia um estúdio de pintura fantástico. Queres ir ver as ruelas giras atrás da Rua do Século? E vamos, a pensar em roubar as casas às pessoas (que não o conteúdo). Voltamos e seguimos pela D. Pedro V. Naturalmente, paro para fazer festas e fazer baby talk a todos os patolas que passam por nós, que me abanam o rabiosque e (me) cheiram a Nonô e o Vasquinho (os miúdos estão em casa a fazer a sesta). Chegamos ao miradouro de São Pedro de Alcântara, apinhado mas fazível, e espreitamos os cães no andar de baixo e a luz da cidade refletida no Castelo. Descemos, eu quero uma fotografia com o cauteleiro na Praça de São Roque mas já é maluqueira a mais para ti, já me aturaste a querer pendurar-me numa árvore no Jardim Botânico e a perguntar pelos Dinossauros no Museu de História Natural ("Não há dinossauros? Vou-me embora" - E fui). Como me recusaste a foto, digo-te que aquela sex shop é uma porcaria, e abres conservadoramente muito os olhos, a repreender-me. Passamos por uma gravura do Salazar e digo-te que é pena faltar tanto tempo para os teus anos. Ah ah ah. Vamos ao Café Royale.

Traseiras da Rua do Século
Miradouro de São Pedro de Alcântara | Emerald Green Mint in the City |
Loura Dating the City

Entramos, e toda a gente me fala. É um dos meus sítios em Lisboa. Adoro tudo. Ali escrevo tudo, ali lambuzo-me na tarde de maçã ou no bolo de chocolate. Chá de Eterno Verão e Limonada dos Bosques. Sabe tudo a calor. Vais à net e vamos embora, meia hora depois.
Descemos mais um bocado e estamos na Garret. E chegamos ao Santini, insisti em caminhar pela esquerda mas foi só por causa dos restos de sol, e está uma fila do demónio. Eu afinal não quero um gelado do Santini. Eu também não. Sofá do Starbucks com um pote de frapuccino de café e caramelo, bombas calóricas das boas. Moleza boa...............................................................

Chá do Eterno Verão & Limonada dos Bosques by Cafe Royale |
Mobile-Hamsa-Golden-Cover  direta de Casablanca by my BFF Diogo |
Os (meus) Ray Ban que ambos usamos
Marta-Marlene (ao estilo Victor-Victória) no Starbucks do Chiado

A ideia era voltarmos no 28, o elétrico. Mas esqueci-me dos bilhetes pré-carregados em casa e aquilo assim a seco é caro para xuxú (2,50 €). Por esse dinheiro, vamos de táxi. Faltam 15 minutos para o Sporting-Porto, não é lagarto? Chegamos, relato na TSF, bola no computador, humanos a caputar. O scp marca, eu tento torcer pelo empate, há vermelho e o Quaresma para a semana também não joga. Jantamos castanhas e torradas de pão alentejano? Sim. Que domingo maravilhoso.

Não precisámos de gastar gasolina nem neurónios no trânsito. Nem parques de estacionamento e parquímetros. As entradas no Jardim Botânico custam 2 € por pessoa. O Chá do Eterno Verão e a Limonada dos Bosques, 4,90 €, no Café Royale. Abusamos no Starbucks, 6,50 €. E como somos preguiçosos, algo idosos e a bola estava quase a começar (e eu esqueci-me dos bilhetes pré-carregados), 5,10 € no táxi. O passeio ficou em cerca de 10 € a cada um. Mas fazia-se bem por 5 ou apenas 2 €. Ou até por nada.

E não é que me apetece que seja domingo outra vez?
Love dating the city.

Fotos/Créditos: Moi-zinha e Afonso Azevedo Neves

Dating the sun (a primeira visita dos miúdos à praia)

Dia 15 de Julho de 2013, quando adotei o Vasquinho e o fui buscar ao abrigo dos seus resgatadores, prometi-lhe que faríamos uma série de coisas que, tenho a certeza, o meu miúdo nunca tinha feito, nos seus quase cinco aninhos. Já cumpri uma parte generosa da promessa, mas ainda não tinha levado o Vaca à praia, ver o mar e nadar.
Com o sol a raiar primaveril, quase estival, rumámos ao Guincho com o Vasquinho e a Nonô.
A maluquinha, que fez cinco meses na sexta-feira passada, só queria correr, correr, correr - e eu mãe galinha, cheia de medo de soltar a miúda e ela desatar a correr e não voltar... - e molhou as patinhas, e correu à beira-mar e adorou tudo.
O Vasquinho importunou-se um pouco com a areia (sai à mãe, quando era mais pequena) e assim que pisou areia molhada, finca pé e chegar-se ao mar só arrastado. Ainda correu alguns três minutos, mas cansou-se. E o vento, um horror para o pelo? Só quando o peguei ao colo e fui cumprir o que lhe tinha prometido fazia 8 meses naquele dia, e fomos os dois ver o mar de pé-da-mãe-na-água, é que o Vaca fez os seus "hummmmmmmms" de satisfação.
Great two hours loving the sea and the sun.
E à noite colapsamos todos.

(Ah, ninguém fez nada (pees ou poos) na praia. Mas os saquinhos iam no meu bolso, e eu pronta a por a mão "na massa". Mãe sofre. Sério.)

Os três da vida airada: Vasquinho ao colo, mãe a carregar e Nonô doidinha com tanto espaço e água


 Vasquinho nos seus 5 minutos de corrida, Nonô nos primeiros dos 50 minutos que correu...

 "Mas onde é que isto é agradável?! Esta ventania faz-me dores de ouvidos e nós no pelo, humpf"


 A correria da Nonô 
(e a mãe dela num look integral Puma e Zara Kids: jeans de rapaz 11-12 anos da Zara Kids, Sweat Geeky de rapariga 13-14 anos da Zara Kids e Zip Sweat da Puma de rapaz; a acompanhar os devidamente abandonados na areia tennis shoes da Puma)

 Luv U, Vasquinho

Promessa cumprida. Com mais calor vamos ao banho.

Fotos/Créditos: Afonso Azevedo Neves

10/03/2014

Marta e os (wonder) pexinhos (ou porque é que não volto ao sushi)

No dia de Carnaval, só o céu mascarado de cinzento, fui pela primeira vez na minha vida ao Oceanário.
Sim, é verdade. Está lá deste 1998, a chatice feita numa fila gigante só, a Expo, a enorme garoupa que abocanhou o tubarão bebé, qual mito urbano. Mas nunca, nunca tinha ido.
Depois de um almoço tardio no Caís da Pedra, um hambúrguer de grão e cenoura em bolo do caco de alfarroba acompanhado de batatas doces com mel e alecrim e um homemade ice tea, uma certa e determinada pessoa teve a enorme generosidade e pachorra para me arrastar para o Oceanário, convicto que eu adoraria. Não sem antes gozar comigo quando eu, no meu segundo dia de vegetariana, arrematei o dito hambúrguer veggie com um "não é mau!". De me perguntar se eu também já não comia peixe e de se ralar com as proteínas e a minha dieta - estou com uma anemia demasiado prolongada, glóbulos pouquinhos, pouquinhos, o que me deixa de bofes de fora mal subo uns míseros degraus. E de me ouvir queixar do aprisionamento dos peixinhos num aquário-circo-para-as-delícias-de-quem-vê-e-pobres-dos-peixes-presos-em-vez-da-liberdade-oceânica.


Adorei o Oceanário. Claro que tive o melhor guia de sempre, sabedor de tudo e alguma coisa mais sobre os ditos barbatanudos, nomes, espécies, origem. Por mim ainda lá estava - até porque aquilo é um bocado labiríntico, a cada voltinha no carrossel achava que já tinha visto os peixes do Atlântico, mas-espera-que-estes-agora-são-do-Índico. Mas é triste perceber porque é que o Oceanário de Lisboa, um dos maiores e melhores do mundo, disse-me o meu guia, é absolutamente pedagógico. Eis as razões:

1) A enorme concentração de pais burros e ignorantes, que nem se dão ao trabalho de ler as placas explicativas para puderem dizer alguma coisa de jeito e responder às perguntas dos filhos:
Filho de 4 anos: "É um monstro, mãe!"
Mãe: "Pois é filho, é um monstro..."
Filho de 4 anos: "É um monstro, pai!"
Pai: "É um monstro, um peixe-monstro"
Filho de 4 anos: "Como é que o monstro se chama, pai?"
Pai: "Aaaahhhhh... monstro?... aaahhhh... este senhor deve saber..?"
Certa e determinada pessoa: "É um peixe-lua"
Pai e Mãe: "Aaahhh! É um peixe-lua!!!"

Juro que o diálogo é verdadeiro. É só ler com o timbre vocal de total idiotice que a minha escrita permite descortinar. Eu só abria e revirava os olhos, e zurzia "raios, está aqui uma placa, é só lerem". Mas isto repetiu-se muitíssimas vezes durante aquela tarde. Não sei se o meu-certa-e-determinada-pessoa tem ar de Santo António (se fosse um destes paizinhos, agora teria de acrescentar "por causa do Sermão aos Peixes, em 1654", mas não é o caso, pois não ilustre leitor?) ou de génio dos Oceanos. Sei que aquela gente nem os tubarões identificava com precisão. E os miúdos, coitados, avidos e curiosos... a absorver a ignorância, pasmarrice e preguiça intelectual dos progenitores.


Mãe brasileira: "Vamo ver ais focáis!"
Pai brasileiro: "Vamo!"
Eu (antes que a filha assumisse que a Micas e a Maré, filhas do Eusébio e da Amália, eram focas): "São LONTRAS!"
Mãe brasileira: "Aaahhhhhh... são lontraís! Qual a diferença?"
Pai brasileiro: "Não são peixe, nê?"
Eu (capaz de os atirar à água gélida): "Têm muito pelo, as focas têm pele. E são mamíferos, claro que não são peixes".
Sonoro "aaaahhhhhhhh". Nunca ouvi tantos "ahhhhhhh's" concentrados no tempo.



2) Os portugueses são uns preconceituosos que não se aguenta. Ai pois são.
Eu adoro animais. Sou mãe de um cão, uma cachorra, duas gatas... Adorava ter um porco. Dá-me igual se os bichos têm pelo ou escamas (a não ser no caso dos répteis-que-rastejam-aos-zigue-zagues-e-cujo-nome-nem-sou-capaz-de-dizer, e que apelido de "bicho ruím", tenho uma fobia do demónio e já deixei de visitar países à conta das sacanas). Sentei-me no chão em frente ao aquário grande a falar com os peixes, as mantas, as raias, os tubarões, as corvinas. Punha as mãos no vidro, como se eles me vissem, e fazia vozes e canconetas. Sim, parecia uma miúda, and so what? Não há nada mais saudável do que soltar a criança que há em mim, quando não é inoportuno. Mas ficava tudooooo a olhar para mim como se fosse maluquinha. A não ser os miúdos e os turistas dos estrangeiros.




3) Os portugueses são absolutamente incivilizados, e pelam-se por uma desobediênciazinha. Aliás, a tudo o que se possa acrescentar um "inha" ou "inho", fica logo adorável para o portuguesinho-coitadinho.
Tudo a flashar os peixes. Não interessa nada que haja por todo o lado sinais e placards a apelar educadamente ao civismo. Os peixes assustam-se. E, ignorância, aqueles aquários são de um vidro de tal espessura que a única forma de conseguir fotografar os peixes no interior e SEM FLASH. Mas não. Tudo a flashar os peixes. Nem o nosso ar incomodado, e eu a dizer, já quase a gritar, na constância, que "não se pode usar o flash aqui dentro!" fazia nada pelos barbatudos. Talvez um encontro à esquina com um simpático tubarão os ajudasse?

Como sou uma rapariga já crescidota, e que aprendeu algumas lições da vida, relativizo muito tudo e algo mais, e não foi a parvoeira circundante que me impediu de degustar cada segundo daquela experiência. De facto o Oceanário é lindo, os peixes são tão bem cuidados, e os pinguins e as lontras e os pássaros, e é muito pedagógico - porque se os miúdos não sabem que os ovos vêem das galinhas, os pais não sabem que um peixe-lua não é um monstro submarino. E se já não aguento, de enjoo, a ideia de trincar um bife, não sou capaz de comer peixe. São de sangue frio, são. Mas são menos bicho que um cão, um porco, uma vaca? Não. não fazem truques, mas são espetaculares. E muitíssimos estão a ficar extintos, apesar de não ser possível abandoná-los na rua à sua mercê. Ontem (domingo), comi uma salada com camarões e morria de remorsos. Até que, ao terceiro, não consegui comer mais. Faz-me bem à saúde? Amanhã vou a um nutricionista. Logo vos direi. Mas há uma coisinha que me faz muito bem à higiene (e saúde) mental: ser coerente com aquilo em que acredito. Há muitas formas de respeitar a vida e os animais. A minha tenta fazer o pleno possível.

É isto.

Hambúrguer de grão e cenoura em bolo do caco de alfarroba, no Caís da Pedra...
(vão dizer-me que tem mau aspeto, querem ver...?)

... acompanhado com batatas doces cozidas, com mel e alecrim
(eu a-d-o-r-o batatas fritas, mas cozidas são mais saudáveis, mel é bom para a saudinha e alecrim faz bem a um sem número de coisas... tem mau ar, por acaso? tem, tem?)


Créditos fotográficos: Afonso Azevedo Neves.