25/03/2014

A minha avó morreu. Viva a minha avó!

A minha avó Luísa, avó materna, avó-mãe, morreu esta noite. O coração parou, estava a parar há uns tempos. Não fui apanhada na curva, ela estava internada há uma semana e meia. Pude despedir-me, dizer-lhe tudo o que tinha de dizer, conheceu a minha unidade familiar (filha adotiva, namorado, BFF-irmão-tudo), soube a que a sua neta favorita (nunca escondeu, eu cresci com os meus avós, foi da casa deles quer sai para casar) ficava bem, prometi-lhe que tomava conta do meu avô, disse à minha avó que se não pudesse esperar que eu voltasse a estar ao seu lado para se ir embora não fazia mal. E não pode. Esperar. Durante a noite partiu, e às 8h20m o meu telemóvel tocou, mal vi um número que não conheço soube. Talvez tenha mesmo sabido à hora, porque não preguei olho.
E agora?
Eu, que teorizo que as pessoas se celebram em vida em vez de se chorarem na morte, consigo praticar o que prego?
A questão é muito simples: tudo o que se passe a partir de agora já não é pela minha avó, é por mim. E como tal, é remorso, culpas, saudade, eu eu e eu. Nem pensar. Chorei muitíssimo na sexta-feira passada. Quis muito que a minha avó partisse enquanto eu estava ao lado dela, porque entendo que ninguém deve deixar este mundo sozinho. Só que não foi possível. Fiz tudo o que podia. Pelo menos nesta reta final. Agora, apetece-me celebrá-la. Ir ao restaurante onde costumávamos almoçar as duas (ou os três, com o meu avô), pedir galinha com caju (raios, sou vegetariana) e um copo de vinho branco, como a minha avó fazia. Ou ao Jardim da Estrela dar milho aos pombos (programa de infância), às piscinas de São Bento, aos Montes Claros apanhar malvas para o chá ou pinhões. Tentar fazer o arroz de bacalhau ou o arroz doce d-e-l-i-c-i-o-s-o-s que só á minha avé Luísa sabia fazer (atenção família: o arroz doce tinha segredo, como toda a gente sabe, e eu sei qual é! A avó contou-me há uns anos!!). Ver filmes de Bollywood, vestir um padrão leopardo, umas havianas, tomar uma italiana, ir comprar tecidos. Coisas nossas que cresci a fazer. Sou a Marta que sou porque a avó Luísa me fez assim. E em todos os sítios dizer um sorridente "OBRIGADA AVÓ".
A derradeira decisão que tomou deixou-me um pouco órfã de despedida, mas na verdade ela sempre me disse que era isto que queria: doou o corpo à ciência, e quando os cientistas o tiverem estudado quer ser cremada. Respeito, muito respeito. Senhora muito despachada que era, embora desse pouca conta disso ao mundo. Fiz-lhe um colar de pérolas este fim de semana, para ela levar, adorava pérolas. Vou guardá-lo numa das caixinhas dela.

Eu, aqui do alto das minhas saudades e da fatal certeza de que não volto a estar com a minha avó, digo-vos: quando saírem do trabalho, vão encher alguém de mimo. Avós, pais, tios, periquitos. Morrer é só uma etapa da vida. Aquela que acontece de certezinha.
Eu não vou vestir preto, não vou abdicar da cor, vou tentar fazer o meu dia o mais normal possível. A minha avó, embora mal conseguisse falar, disse-me que gosta de me ver loura. Então, vou ser loura, louríssima, hoje. E ouvir músicas de Bollywood.

Adoro-te avó. Gosto tanto tanto de ti! Está tudo bem. Prometo que vou continuar a ser feliz.
(Tirámos estas fotografias, eu e a Dri, antes de ir ter contigo no domingo. Porque tu adoras flores e jardins e malmequeres e sol)







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